Aqui é Galo, porra!





Osias Baptista Neto
Virei Atleticano no dia 19 de abril de 1959, quando meu pai alugou uma televisão para que pudéssemos assistir a uma entrevista sua sobre fotografia, na TV Itacolomi, entrevistado pelo Milton Collen, num sábado. No domingo, televisão ainda em casa, vi, pela primeira vez, em preto e branco, o Atlético vencer o América, por 1 x 0, gol de Ubaldo. Aprendi, naquele dia, que a televisão não precisava de cores, pois a alegria era alvinegra.
Morava no Santo Agostinho, pertinho do Estádio Presidente Antônio Carlos, carinhosamente chamado de “estadinho da colina”, e me acostumei, junto com meus colegas de rua, a assistir treinos, jogos, coletivos, enfim, viramos “piolhos” do estadinho do Galo. Assisti ao primeiro treino de Lola, Vaguinho, Oldair, Buião, e do grande Dario Peito de Aço, que assustou o técnico Yustrich marcando dois gols esquisitíssimos um pelo time reserva, no primeiro tempo, e outro pelo time titular, no segundo, um deles parecia que ele sairia com a bola e tudo para fora, com seu jeito desengonçado de correr, e quase da linha de fundo enfiou a bola no gol, surpreendendo o goleiro, não me lembro se Fabio ou Mussula.
Vi o Galo penar com seu rival, no início do Mineirão, ficando dez partidas sem conseguir ganhar, todas assistidas ao lado da charanga do Galo (ainda não existia torcida organizada), até que, no dia 27 de outubro de 1968, no primeiro jogo que não fui, porque tinha um baile de debutantes em Lafaiete no sábado, o Galo ganhou por 1 x 0, com um gol de Vaguinho aos 42 do primeiro tempo.
Assisti ao Galo empatar por 1 a 1 com o Botafogo, na Taça Brasil, na prorrogação, e o jogo ser decidido na cara ou coroa. O capitão, Oldair Barchi, quando a moedinha rodou no ar, deu um esbarrão no juiz, a moeda foi ao chão e ele saiu correndo, pulando, gritando, com os braços abertos, e o Mineirão foi à loucura, deixando o juiz e os jogadores do Botafogo sem saber o que fazer, e valeu o resultado. Os puristas dizem que não foi nada disso, mas quem estava lá garante que foi assim. Se não foi, ficou sendo!
Deus me deu três filhos, maravilhosos, André, Bruno e Rachel. Todos foram embalados, quando nenéns, ao som do Hino do Galo, e são Atleticanos de coração. O mais velho, André, nasceu no dia 25 de março, às 23:45. Por volta das 22:00 horas o médico, Dr. Salvador, Atleticano de raça e estirpe, depois de horas de contrações sofridas, perguntou-me: “Vai passar para o dia seguinte, induzimos?” E eu respondi: “Claro!”. E André nasceu nos últimos quinze minutos do dia do aniversário do Atlético! Na época não se podia assistir ao parto, e quando o médico saiu da sala de parto brincou que o recém-nascido, em vez de chorar, gritara Galo!
Vi muita coisa, muita gente, Willian, Procópio, Cincunegui, Décio Teixeira, Mazurkieviski, Ortiz, Amauri, Vanderlei, Tião, Reinaldo, o Nosso Rei, Cerezo, Paulo Isidoro, Eder Aleixo, Luizinho, Nelinho, que chutava uma bola do círculo central para fora do Mineirão, Guilherme, Marques, João Leite, tanta gente, até chegar em Tardelli, Bernard, Jô e Ronaldinho Gaúcho.
E então vi o Bruxo. Nunca, desde o dia 19 de abril de 1959, tive tanta alegria, emoção e orgulho de ser Atleticano. Sofri, chorei, gritei, ri, a cada passo da Libertadores, como nunca havia feito. Encantei-me como nunca havia me encantado. Abracei, cantei, dancei, pulei. Achei que meu coração, tal como nas palavras do Mario Caixa, num iaguentá! Explodia a cada gol, a cada defesa do Vitor, a cada jogada do Bruxo. E explodiu no dia 25 de julho, quando eu, normalmente calmo, gritei como nunca, no jardim de minha casa, acordando os poucos vizinhos que estavam dormindo.
Todos fizeram sua parte, mas ele, R49, R10, Bruxo, Mestre, Gênio, Mito, enfim, Ronaldinho Gaúcho, me fez viver e reviver o ser Atleticano. A Copa não teve importância nenhuma. Somos os reis da América. Obrigado, R10 eterno, por nos trazer de volta o orgulho de poder dizer: Aqui é Galo, porra!!!!

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