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  O sorteio, a cinemática da vida e um ramo de Oliveira A vida me deu grandes amigos, sem dúvida, mais e melhores do que eu mereço. Como dizíamos antigamente, amigos de calça curta. Dizíamos isso lembrando do tempo em que a gente queria crescer para poder usar calça comprida, pois calça curta era coisa de criança. Depois inventaram a tal da bermuda, e essa distinção acabou. Lembro-me bem da alegria quando, ao passar para o segundo ginasial do Loyola o uniforme era de calça comprida. Saímos dos menores e passamos para os médios! Já nos sentíamos quase dos maiores, e olhávamos com superioridade as crianças de calça curta. Bom voltando aos amigos, eles vão se agrupando conforme nossas histórias. A turma da rua, do colégio, do futebol, dos primos, de Lafaiete, da Engenharia, do CPOR. Passaram-se os anos, muitos, por sinal, e alguns desses amigos perderam-se nas memórias, esvaíram-se no tempo, à medida que a vida interrompia a nossa convivência. Alguns, sabe-se lá bem o porquê, não ar
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  A minha rua de meu avô   Nos idos de 1990, se não me falha a memória já cada vez mais falha, estava trabalhando, quando recebi um telefonema de meu pai: Zia, acabei de receber uma ligação do vereador João Capistrano (na falta da memória inventei esse nome, claro...) que nem conheço, dizendo que aprovou uma lei dando o nome de uma rua ao seu avô que, segundo ele, o ajudou em uma fase difícil de sua vida. Não conheço o sujeito, mas agradeci e falei que Papai deve estar feliz por isso, onde estiver. Veja se descobre onde é essa rua, pra gente ir lá ver. Nessa época (já podemos falar assim, porque era outra época mesmo!) não havia internet, as coisas eram todas no papel escrito e pelo telefone mesmo. Lembrei de uma ex-colega de trabalho, a Luzia, que então trabalhava na assessoria de um vereador e lhe telefonei, pedindo para ela averiguar. Alguns dias depois ela me telefonou confirmando, e falando que era no bairro Serrano, alguma Rua A ou coisa assim que tinha trocado de nom
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A árvore Maio de 2020 “Moço, responde, pelo amor de Deus! Fala comigo!” A voz vinha de longe, desconhecida. Abri os olhos e vi uma velhinha, com a fisionomia agoniada, apertando meu braço, tremendo. Ao me ver de olhos abertos, sua fisionomia se transformou em uma expressão de alívio, enquanto falava, baixinho: “Cê tá vivo, cê tá vivo, louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!” Era o dia 7 de março de 1995, uma manhã de céu azul, sem nuvens. Há apenas uma semana ocupando uma das diretorias do DER/MG, eu havia saído de casa antes das sete, para deixar minha filha Rachel no Instituto Isabela Hendrix, na Rua Espírito Santo, dar uma passadinha no meu escritório no Santo Antônio e em seguida me dirigir ao novo posto, onde chegaria por volta das nove horas da manhã. Nesse dia, sem motivo nenhum, resolvi não ir ao escritório e ir direto ao DER, para ter mais tempo para ler os documentos da diretoria antes do pessoal chegar. No caminho da escola eu e Chel fomos conversando, u
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A carta Julho de 2019 A vida recomeçara, no seu ritmo alucinado de estudante de Engenharia. Trabalhava de dia, como técnico em uma consultora, e estudava à noite, na FUMEC. Morava perto da escola, ia direto do trabalho, comia um macarrão ou coisa do tipo nos carrinhos que ficavam na Rua Cobre, perto da entrada, e depois da aula era só descer a ladeira e num minuto estava em casa. Não era bem “casa”, casa mesmo era em Carmo da Mata. Morava num quarto alugado no apartamento de Dona Maricas, velhinha simpática de Itabirito que alugava dois quartos para estudantes, que a chamavam carinhosamente de tia, complementando com isso sua minguada aposentadoria. Seus filhos, esses moravam longe, no Rio e em São Paulo, dificilmente davam as caras por lá. Mas ela se divertia com os rapazes, gostava de prosear e até mesmo de tomar uma cerveja com eles. De preferência preta, malzbier. Dizia que cerveja clara era para os jovens, mas se não tivesse escura tomava também. Chamava os rapaz
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A pensão de tia Zulmira Osias Baptista Neto Era verão. Calor bravo, muito sol. Betinho chegou na rodoviária, mochila nas costas, fones de ouvido com bluetooth, e desceu as escadas para a plataforma de embarque. Até que enfim, férias! Não podia esperar a hora de ver o mar, comer aquele camarãozinho e tomar aquela cerveja gelada. Paulinho, seu melhor amigo, havia lhe recomendado: "Que Cabo Frio que nada, cara! Você tem que ir é pra Barra do Curupiri, o melhor lugar do mundo! Ficar na pensão da tia Zulmira, velhinha incrível, o maior barato! Chega de programa de mineiro, sô! Vou passar um telegrama pra ela, avisando que você vai pra lá." A viagem até Salvador foi cansativa, mas sem novidades. Estrada longa, partes ruins, partes boas, muito trânsito, mas todo mundo de pé embaixo. Deu para dormir meio torto, felizmente a poltrona do lado estava vazia. Em Salvador comprou passagem para Esplanada, onde pegaria outro ônibus. É, o lugar devia ser danado de bom pa
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OS SETE JARDINS   Osias Baptista Neto             Quando Abdulah parou de falar o velho califa sorriu, colocou a mão direita em seu ombro e falou, com sua voz grave e arrastada:             "O coração de um homem, meu filho, é formado por sete jardins, fechados por sete muros, um dentro do outro, em círculos concêntricos, como os veios de uma tamareira cortada pelo machado de um lenhador imprevidente. O primeiro muro, o mais externo, não tem sequer um portão em sua entrada. As pessoas entram e saem sem cerimônia, arrancam as poucas flores e frutos que ainda tentam medrar, cospem e defecam.             O segundo muro tem um portão, de barras de ferro batido, mas sem fechadura. Os mais curiosos o abrem e entram, por lá passeiam e tornam a sair. Lá sobrevivem umas poucas flores, e uma velha palmeira.             O terceiro muro tem um portão de folhas de ferro, pelo qual não se pode espiar, e uma antiga tramela, difícil de abrir. Aqueles que querem conhecer o jardim
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A segurança de trânsito e as leis Osias Baptista Neto A segurança de trânsito não é uma questão de governo. É uma questão de sociedade. Afinal, o povo brasileiro compactua com mais de 34 mil mortes no trânsito por ano? Aprova as medidas que reduziram esse absurdo número de 44 mil em 2014 para 34 mil em 2018? Acha que elas devem permanecer e serem tornadas mais eficientes ainda para reduzir sempre mais esse número, com o conceito de que NENHUMA morte no trânsito pode ser aceita por uma sociedade minimamente civilizada? Na hora que se discute o futuro econômico e financeiro do país, às portas de nova recessão, pode-se insensivelmente perder mais de 50 Bilhões de Reais por ano em acidentes de trânsito? Sabe o povo brasileiro que NENHUM país do mundo conseguiu reverter a taxa de mortalidade no trânsito apenas com educação, sem reforçar fortemente a legislação de trânsito e a fiscalização? Sabe o povo brasileiro que, desde a aprovação do Código de Trânsito Brasileiro em