A mobilidade nos novos tempos


Osias Baptista Neto

Vivemos um tempo de mudanças drásticas, difíceis de compreender, transformando conceitos recentes em coisas do passado, substituindo-os por outros que logo serão também superados. Crianças e adolescentes já conversam entre si lembrando produtos ou usos que já desapareceram do consumo imediato, como “antigos” modelos de celulares com apenas uma câmera, músicas e intérpretes que tão logo aparecem nas “dez mais”, desaparecem mergulhadas no ostracismo.

A tecnologia torna mais tecnologia possível, em velocidade cada vez maior, alimentando-se de si mesma, como previu Alvin Tofler nos anos 1970. A capacidade de compreensão do ser humano é colocada à prova, tendo de se adaptar ao ritmo veloz das mudanças que não respeitam mais as estruturas rígidas do passado, precisando tornar-se maleável e adaptativa. Surgem novos modelos, novos ofícios, novas relações, adequando-se rapidamente a cada inovação tecnológica lançada num mercado sôfrego do desconhecido.

Novas relações de trabalho são criadas com a disseminação das comunicações. Escritórios multiponto, home office, vídeo conferências, comandos de voz, big data forçam um novo modelo de cidade, ou de uso da cidade, em que a inteligência artificial vai ganhando espaço na internet das coisas, criando comunicações entre máquinas e objetos, leituras e aprendizados de modos e hábitos dos humanos.

Dentro disso, a mobilidade urbana passa por um momento de tensionamento nunca antes experimentado. A inércia natural dos modelos tradicionais de vias e sistemas de transporte baseados em tecnologias de alto custo vê-se bombardeada por inovações que surgem a cada momento, trazidas pelo desenvolvimento das comunicações via smartphones, com a popularização de aplicativos agenciadores serviços que impactam fortemente a mobilidade, desde o transporte de pessoas e alimentos ao agenciamento de serviços diversos. Os drones, saindo da ficção científica, popularizam-se associados aos sistemas de GPS e ganham potência, transformando-se em novos meios de transportes de cargas e de pessoas.

Antes meros brinquedos, as patinetes invadem as cidades transformando-se em meio alternativo de transporte. Skates elétricos, segways,  segway shoes, as novidades se sucedem em tal velocidade que não dá tempo a que se regulamente o seu uso, fluindo livres e anárquicas no meio de pedestres e dos veículos, gerando insegurança, perplexidade e acidentes. As motos proliferam, criando uma nova maneira de ir e vir, lúdica, rápida, perigosa.

Não se pode mais olhar as cidades e sua mobilidade com os mesmos olhares de alguns anos atrás. Soluções de ontem não servem hoje, quanto mais amanhã. É preciso se reinventar em tudo, mas, sobretudo, é preciso não deixar que o ciclone tecnológico varra de nosso mundo a paz, o afeto, a amizade, a contemplação, o prazer de viver. O que torna a reinvenção mais difícil e desafiadora.

Comentários

  1. Sabe Osias, dentro desta perspectiva do "novo" fico imaginando como temos caído com facilidade nas ofertas de uma vida mais ágil, mais produtiva, mais rentável e acabamos nos deparando com situações que nos imobilizam diante da necessidade de pensar. Me parece que as pessoas não estão conseguindo "parar para pensar" e isso impulsiona a sociedade para abismos terríveis e sem volta.
    Estar parado é virou sinônimo de atraso, caminhar a pé é perder tempo e por ai vamos.
    Que bom que esse seu espaço para cavaquear. Um forte abraço de quem o admira.

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    1. Obrigado, Maurício! A admiração é recíproca, sem rasgar seda. Vamos a pé, devagar e sempre, curtindo o caminho. Grande abraço!

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  2. De 1974 a 2977 morei no Square La Bruyere a Ville Nouvelle d'Evry, uma cidade planejada dentro de Evry.
    O conceito é atual até hoje. Cada quarteirão, chamado de Square, era composto por 6 a 8 prédios de 5 ou 6 andares, um edifício garagem e uma praça central para convivência.
    Em toda a cidade pedestres e carros não se cruzavam nunca. Podia-se cruzar a cidade sem atravessar uma única via para veículos, ou se passava em passarelas muito largas ou os carros passavam em túneis.
    Toda a calefação era centralizada em uma usina e as tubulações tanto de água, aquecimento e energia vinham por túneis até os prédios.
    O comercio era de pequenas lojas espalhadas pela cidade e dado ao hábito de se andar a pé havia um clima de cidade do interior e isto a pouco mais de 40km de Paris.
    Na época era revolucionário demais e os franceses relutavam em morar lá, parte considerável dos moradores eram estrangeiros.
    Pena que a experiência não prosperou muito, pois as cidades seriam bem melhores.
    O vídeo abaixo (em francês) mostra o conceito.

    https://youtu.be/BSaGEChesMQ

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    1. Muito interessante, Marco Túlio. Com certeza seriam melhores. Veja como é agradável andar em Veneza, mesmo quando o cheiro não é bom. Grande abraço!

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  3. Oi Osias !!! Que prazer poder ler vc por aqui... ler vc cavaqueando que delícia!! Parabéns pela iniciativa assim outros mais poderam entrar nesta bela ideia. VAMOS TODOS CAMINHANDO E ENCONTRANDO INSPIRAÇÃO PARA SEGUIR CAVAQUEANDO E SONHANDO. Um forte abraço até breve!!

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  4. Oi amigo de adolescência! Hoje estou sem assunto pra cavaquear mas nao queria deixar de cumprimentar você pela iniciativa. Até porque é um prazer enorme ler coisas bem escritas, o que tem sido raro por aqui. As pessoas nao sabem mais escrever. Ja você seguiu o exemplo do "seu" Wilson. Até mais.

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  5. Maria Lucia Pinheiro Barbosa5 de junho de 2019 às 18:05

    Não podemos deixar os sentimentos e determinados valores perderem essa corrida "louca".

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